sábado, 14 de abril de 2007

O seguinte texto é pura ficção. O autor não se responsabiliza por qualquer semelhança com a realidade.
Congresso da JP daqui a 10 anos
São 18:20h de Sábado – saio desesperadamente de casa, com uma caneta no bolso e um bloco pautado na mão. Rumo, a pé, para a Av. da Igreja. O cabelo ainda está molhado e as ideias circulam a um ritmo fernético, acelero cada vez mais o passo em busca de um café e um maço de cigarros.
Uma hora antes, enquanto tomava banho, tive uma visão quase profética do futuro. Isto, minutos depois de ter lido algures que hoje fazia oito anos que havia falecido Nuno Krus Abecassis, figura marcante do CDS e da autarquia lisboeta. Juntamente com Adelino Amaro da Costa, foi para mim das figuras mais marcantes da direita, ainda na época democrata-cristã.
Voltando à visão, repito quase profética, que tive durante o meu duche, antevi um congresso da Juventude Popular daqui a 10 anos. Não sei por que é que Ele me escolheu a mim, socialista e agnóstico, para fazer esta revelação ao mundo. Mas sinto-me com responsabilidade acrescida por ser, nesta hora difícil para o CDS, um mensageiro divino.
Estamos pois no XXII Congresso Nacional da JP. A liderança é disputada por duas promessas da direita portuguesa, pela Lista A Martim e pela Lista B Salvador. O habitual sistema de cacique das distritais parece que não está a funcionar e tudo aponta para que o congresso seja decidido em função das características, qualidades e defeitos de cada candidato. Este fenómeno leva a uma grande cobertura mediática do evento, que José Pacheco Pereira já classificou, no seu post 948000 do Abrupto, como a “adesão de Portugal ao estilo de política à americana”.
O primeiro candidato a chegar foi o da Lista A. Martim deu entrada no GarageCongressCenter em Lisboa (antiga discoteca Garage) ladeado pela sua namorada Pimpinha e pelo seu vice-presidente Rodrigo Maria de Vasconcellos de Pinto Costa Soares e Carvalho Brito. Martim chegou no seu Land Rover Defender verde tropa com dois autocolantes, um da loja Triologia e outra da Ericeira SurfShop, ambas patrocinadoras da campanha. Este candidato conta, na minha opinião, com o melhor currículo.
Martim começou a sua carreira política como presidente da A.E. da Escola Secundária Maria Amália em Lisboa, depois de ter sido expulso de um conhecido colégio da capital, por alegadamente ter ingerido dois malibus-cola antes de uma aula de Religião e Moral. Esta jovem promessa da política, tem 23 anos e é finalista do curso de gestão na Universidade Católica, contudo os pontos que jogam mais a seu favor são o facto de ter sido relações públicas da discoteca Absoluto, ter duas participações no campeonato nacional de surf, uma casa em Vilamoura e mais dois irmãos que o outro cantidado – 8 no total.
Mesmo com este brilhante currículo, Martim é muitas vezes confrontado com o seu passado, recheado de processos disciplinares na Juventude Popular. Corria o ano de 2010 e Martim foi condenado por se ter dirigido a um colega de partido - em pleno Conselho Nacional em Vale do Lobo - tratando-o na segunda pessoa. Dois anos depois, foi também condenado por ter sido apanhado na Trignometria a fumar um cigarro Marlboro, sendo que as duas únicas marcas permitidas na JP desde da última revisão estatutária são L&M e Lucky Strike. Contudo, a situação mais grave sucedeu-se recentemente , quando acusou, na imprensa, o seu rival Salvador de ser um “surfista de banheira” e de “usar calças pouco largas, que não deixam mostrar os boxers”. Corre ainda outro processo por se ter referido ao calçado desportivo como “téni”, em vez de “ténis”. Absolutamente lamentável.
Salvador chegou ao congresso pouco tempo depois, ao volante do seu Golf IX prateado, com dois gigantescos autocolantes dos seus patrocinadores: Rip Curl e Billabong, sugerindo desde já que tem mais dinheiro que o seu rival para esta campanha. O candidato da Lista B vem vestido com uma t-shirt azul cueca onde se pode ler “não destruam as ondas”, umas calças largas da Rip Curl (uma eventual resposta a Martim) e uns ténis Vans. A sair do bolso direito é visível uma fita para as chaves rosa-choche da marca Roxy que foi dada pela sua namorada “Felipa”. Na mão traz o seu telemóvel anti-choque laranja com um autocolante da Reef e o maço de tabaco Lucky Strike, em gesto de pura provocação a Martim. Salvador teve uma entrada mais triunfante que o seu opositor, sendo recebido por dezenas de congressistas que gritaram entusiasticamente: “Salvador vá em frente tem aqui a sua gente!”. Um momento bonito, de política pura.
O candidato da Lista B tem 24 anos e começou tardiamente a sua carreira, pelo facto de ter frequentado sempre colégios privados, onde não havia associações de estudantes. Contudo, Salvador revelou-se um líder quando, aos 18 anos, organizou a XV viagem de finalistas do seu colégio a Lorett del Mar. Um exímio praticante de Rugby, fanático de Surf e especialista em Snowboard, Salvador decidiu ingressar no curso de desporto da Faculdade de Motricidade Humana de Lisboa, podendo tornar-se neste congresso um dos únicos líderes da JP a concluir os estudos numa universidade pública.
Este jovem conta no seu currículo com o cargo de Coordenador do Grupo de Jovens da Paróquia do Campo Grande, dois anos como promotor da agência de viagens SporJovem e organizador de campeonatos de Paint-Ball inter-colégios. Em termos de música, gosta de artistas como Matisyahu e Patrice, tendo revelado recentemente que Zeca Afonso usava umas roupas feias e esquisitas, o que o levou a ser fortemente atacado pela UDP, ressurgida há dois anos após a extinção do BE. Dentro da jota, é fortemente atacado por nunca ter trabalhado na noite e só ter tido 10 vezes o nome na guestlist da discoteca da moda.
Martim foi o primeiro candidato a falar e, no seu discurso, acusou Salvador de ser apadrinhado pelo “Tio Portas” e de no corredor o ter tentado agredir enquanto lhe dizia ofensivamente: “você é um traquina”. Salvador optou por um tom mais leve no seu discurso, tendo prometido mais festas e uma viagem à neve nas férias do Carnaval. No entanto, o que acabou por virar o congresso a seu favor foi o facto de possuir um modelo único da marca de ténis Vans, de cor azul e amarela, com o símbolo da JP. Nesse preciso momento, os congressistas começaram a aplaudir freneticamente o candidato e este aproveitou para prometer um campeonato de Surf no Guincho e a decoração do símbolo da jota com flores havaianas e uma fonte de letra mais “cool”.
Salvador ganhou e Martim abandonou o congresso, chorando nos ombros de Pimpinha, com quem, anos mais tarde, acabou por casar e ter apenas um filho, depois de se ter tornado marxista e ingressado no PSD.

12 comentários:

Guido S. Teles disse...

Impressionante... é como ver um filme do futuro a descrever uma realidade do passado eheh Muito bom Joao.. muito bom!

João Pedro Gomes disse...

Tem piada! Deus queira que te enganes... Continua a consultar o nosso blog.

Um abraço

André Couto disse...

Muito, muito, muito bom!
De chorara rir!

RICARDO PITA disse...

quem sabe se não será este o futuro da JP? lol

O Dandy disse...

John Player Special.
Rockport.
Tommy Hilfiger.
Os colégios decentes não vão a Lloret.

De entre os diversos erros ortográficos, saliento a "fixão", na primeira linha. Fixão é o que eu sou... Mesmo muito "fixe".

Não teve piada.

Abraço do teu amigo,

O Dandy.

p.s.: cof cof comuna cof.

PintoRibeiro disse...

Não vejo a questão assim. Mas percebo e está bem esgalhado, yep.
Boa noite.

David disse...

Gostei.
Mas aquela do "téni" e dos "ténis" não percebi. Eu digo "ténis", e não uso o singular do objecto em causa. Mas se for preciso quanto ao assunto (e sou professor de Língua Portuguesa, portanto tenho a obrigação), nenhuma das opções existe no dicionário.
Parece-me que trocou a ordem apenas, porque isso do "téni" é mesmo coisa de menino de calção e sapato (sem meia)...

António Nogueira disse...

Parabéns.

Reisoca disse...

Não tem grande graça, sinceramente. Mas valeu o esforço.
Se conhecesses a "verdadeira" JP este cenário, tão medíocre e desconexo, jamais te passaria pela cabeça.
Enfim...

DM em Caracas disse...

Infelizmente, com mais ou menos "betice", o caciquismo é comum a todas as juventudes partidárias, que mais não passam do que escolas dos principais vícios da política.
Não precisas de ter visões do futuro, basta analisares bem o presente. Se não for a quicksilver a patrocinar, será a rockFM, a peugeot ou as chiclas gorila.
Abraço

Mestre de Aviz disse...

Que parvoíce tão grande! Um "socialista e agnóstico" a falar de caciquismo e de Deus? Parece-me um bocado contraditório, meu caro.

Filipe Brás Almeida disse...

Gostei.