segunda-feira, 16 de julho de 2007

Cheira bem, cheira a Lisboa!

Como seria de esperar o PS, ao fim de três longas décadas, ganhou sozinho as eleições para a CML. Numa altura em que toda a oposição tentou colar a candidatura de António Costa ao governo, parece que esta colagem deu origem a uma vitória do PS e a uma crise na liderança de dois dos principais partidos da oposição. Gostava então de fazer uma análise, candidatura por candidatura:
António Costa - Muitos analistas políticos dizem que não foi o resultado que se esperava e tentam desvalorizar ao máximo esta histórica vitória do Partido Socialista. É verdade o PS só teve mais 2% que Manuel Maria Carrilho, mas também é verdade que há dois anos não havia uma Helena Roseta independente com 10% dos votos, é verdade que os votos de Carmona e de Negrão juntos davam para ganhar a CML, mas também é verdade que os votos do PS e de Roseta juntos chegavam aos 40% da votação. O que muitas pessoas se esquecem também de dizer é que o PS ao fim de 31 anos conseguiu ganhar as eleições autárquicas em Lisboa sozinho, que pela primeira vez na história ganhou em todas as Juntas de Freguesia e que o PSD e o PP tiveram nestas eleições o pior resultado de sempre.
Carmona Rodrigues - O trio Carmona, Fontão e Gabriela deram uma verdadeira lição ao PSD. A candidatura "Lisboa com Carmona" não fez quase campanha nenhuma, colocou os cartazes na última semana e não fez ataques pessoais a nenhum dos outros candidatos. Resultado? O segundo lugar nas eleições e três vereadores na CML. Depois do estado em que deixaram a autarquia uma vitória seria impossível, mas este segundo lugar é honroso e repito foi uma verdadeira lição no PSD.
Fernando Negrão - Foi um candidato esforçado, mas nitidamente mal escolhido. Não soube fazer campanha, adoptou uma postura distante dos cidadãos e mostrou não conhecer a realidade do concelho. Se há alguém que deve assumir as responsabilidades deste resultado, esse alguém é Marques Mendes. Nas próximas directas certamente sairá de cena.
Helena Roseta - Sonhou um dia ser presidente da CML, mas não convenceu. Elegeu dois vereadores, mas esteve longe de um efeito como o provocado por Manuel Alegre nas presidenciais. O quarto lugar era o esperado por toda a gente, contudo teve o mérito de conseguir provar que ainda tem algum peso eleitoral na capital.
Ruben de Carvalho - O peso político do PCP em Lisboa começa a baixar a olhos vistos. Num cenário de imensa abstenção, que invariávelmente costuma benificiar os marxistas-leninistas, a CDU manteve por pouca margem os dois vereadores. Não tenho dúvidas que a votação do PCP continuará a baixar, enquanto o partido não sofrer uma forte renovação democrática. Longe vão os tempos de um PCP em Lisboa protagonizado por fíguras como João Amaral.
José Sá Fernandes - Teve tantos lisboetas a votarem em si nestas eleições como nas de 2005. O BE mostrou ter o seu espaço político na capital, que está muito longe de a breve prazo conseguir ultrapassar os 7%. A eleição de um segundo vereador continuará a ser uma miragem.
Telmo Correia - Pela primeira vez o CDS/PP não terá qualquer representante no executivo da CML. Depois do péssimo resultado na Madeira, o resultado em Lisboa é uma vergonha para a direita e principalmente para Paulo Portas, os saudosistas de Ribeiro e Castro já se começam a reorganizar e um terceiro desaire eleitoral para o presidente do PP, poderá ditar a sua morte política.
Garcia Pereira - O candidato do PCTP/MRPP dobrou a sua votação em relação às últimas eleições e mesmo perante o fenómeno Helena Roseta, um BE sedimentado eleitoralmente na capital e um voto útil da esquerda em António Costa, conseguiu ficar-se pelos 1,6%. Com as actuais regras de eleição da A.R. o candidato maoísta está a apenas a 0,3% de poder ser eleito deputado pelo círculo eleitoral de Lisboa. Com a reforama do parlamento que está a decorrer, a sua tarefa poderá ficar facilitada.
José Pinto Coelho - A extrema-direita teve um resultado tímido, embora com uma ligeira subída em relação às últimas eleições. Neste momento ainda não consegue assustar ninguém e não se espera um grande futuro para o PNR.
Manuel Monteiro - O resultado alcançado pela Nova Democracia nestas eleições foi horrível. O PND tem que repensar muito bem a sua actual liderança, desligar-se da fígura de Manuel Monteiro, encontrar novos protagonistas, pensar novos métodos de campanha e estudar uma política de coligação capaz de dar representação política ao partido. Ou o PND se junta com o PPM e o MPT, ou então é um fim de um partido que no fundo nunca chegou a existir.
Quarttin Graça - Estes 0,54% eram de esperar para o MPT. Comento este resultado da mesma forma que o fiz em relação ao PND, o MPT ou se resigna a manter como partido satélite do PSD, ou então opta por se coligar com outros pequenos partidos.
Gonçalo da Câmara Pereira - Desde que o seu irmão Nuno ganhou a presidência do PPM, que o partido continua a bater no fundo. Primeiro foi uma aliança com Santana Lopes, que em nada favoreceu o PPM, agora é a forma como este partido se tem apresentado à sociedade. Baseia-se apenas na opinião de uma família e serve exclusívamente para defender uma determinada linha sucessória do trono português. É triste pensar que um partido que já teve à sua frente nomes como Augusto Ferreira do Amaral, Henrique Barrilaro Ruas e Gonçalo Ribeiro Telles, agora se limite a ser a representação partidária de meia dúzia de monárquicos marialvas.

2 comentários:

Humberto Nuno de Oliveira disse...

Desculpe vir cá, mas fi-lo através do blog do meu amigo Jorge ferreira.
Só algumas precisões. Chamar tímido a um aumento de 88% não me parece muito lícito (bem sei que no mundo dos "tubarões" os pequenos partidos não contam); contrariamente ao que afirma o nosso propósito não é assustar ninguém, apenas reclamar o espaço que o sistema tirou aos portugueses e isso creia-o iremos fazê-lo até que fiquem "assustados"
Os melhores cumprimentos
HNO

josé manuel faria disse...

Não percebo como é que Garcia Pereira tem a eleição mais facilitada com a reforma do sistema eleitoral!!!