O CDS/PP vive aquela que é, na minha opinião, a sua maior crise desde a fundação do partido. Quem estiver interessado em analisar a decadência desta força política, não pode partir para esta reflexão baseando-se apenas no passado recente do mesmo. É certo, no entanto, que deve haver uma leitura nacional e partidária daqueles que foram os piores resultados do CDS quer na Madeira, quer em Lisboa, sem esquecermos que os mesmos foram atingidos logo após o regresso de Paulo Portas à liderança.
Existe um grande problema inerente à existência do CDS e ao contrário do que muitos querem fazer transparecer, não se trata de uma questão meramente de liderança, bem pelo contrário, este assunto é iminentemente ideológico. Neste momento os centristas vivem num clima de ambiguídade ideológica, que óbviamente se torna insuportável numa estrutura tão pequena. Durante muitos anos vimos conviverem lado a lado militantes centristas como Diogo Freitas do Amaral, militantes liberais como Pires de Lima, democrátas-cristãos como Narana Coissoiró e uns tantos militantes convictos de direita com tiques salazaristas. Na nova política do século XXI um partido pequeno como o CDS não consegue, nem conseguirá, sobreviver se continuar nesta indefinição ideológica, quanto mais não seja porque em vários momentos haverão dirigentes e militantes que irão bater com a porta, exemplos disso são Freitas do Amaral, Manuel Monteiro e Maria José Nogueira Pinto.
Ao que me parece, Paulo Portas quer um partido líberal de centro-direita, que ganhe a longo prazo o seu espaço político próprio, mas que por agora vá dividindo o eleitorado com o PSD. O melhor termo de comparação possível com esta estratégia é, na minha óptica, o modelo dos partido liberais escandinavos. No entanto esta comparação, ainda que próxima, não é real - não é porque nos países nórdicos existem verdadeiros partidos liberais, quer do ponto de vista da economia, quer do ponto de vista dos costumes. Se o CDS decidir inverdar por esta via, sabe que automáticamente perderá o seu eleitorado base, que lhe permite ser neste momento o partido mais pequeno dos grandes, em vez do maior partido dos pequenos.
Para que os resultados eleitorais voltem a sorrir ao CDS é preciso uma definição clara de qual é o seu espaço político, de qual é o modelo ideológico que defende para Portugal. Não é possível a este partido querer ser a força líberal do nosso país e ao mesmo tempo continuar a defender a doutrina social da igreja católica. Antes de Paulo Portas regressar ao CDS com essa ideia peregrina, já Manuel Monteiro o havia tentado no PND - os resultados eleitorais são bem visíveis nos dois casos.
4 comentários:
Percebo o que aqui escreves, mas os partidos não são blocos uniformes. O PS não o é, por exemplo, motivo pelo qual assistimos às candidaturas de Alegre e Roseta. Não vejo mal grande mal a que dentro do CDS convivam as correntes que identificas.
Por outro lado, dois meses depois da sua eleição, Paulo Portas teve tempo de fazer a viragem de discurso do partido de tal forma que essa viragem tenha sido penalizada nas urnas de Lisboa? Esta é a reflexão que penso dever fazer-se.
Um abraço,
a.
Caro João,
Não é por falta de interesse que não cá vim antes, mas por falta de tempo.
Concordo com o AMN, quandoo diz que um partido deve ser plural e deve desconfiar excessivamente de ortodoxias.
Tenho, porém, menos necessidade de reflexão sobre o que se passou em Lisboa: como já disse o ciclo de Paulo Portas esgotou-se e há várias razões para isso. A viragem de discurso (que ocorre depois de outras) é apenas mais uma. Ao contrário do AMN não me parece que haja muito tempo a perder com essa reflexão. Vale pena reflectir é sobre o futuro (depois de Portas). Creio que Portas está a ser altamente penalizado pelos seus amigos que são os primeiros a não ver a realidade (Não me estou a referir em concreto a ninguém e muito menos ao AMN - só ele saberá se também ou não).
Um abraço,
F
AMN,
Os grandes partidos não têm que ser blocos uniformes, mas o CDS tem que se resignar a ser um partido médio e esses partidos têm que ser blocos ideológicos uniformes, sobre pena de se tornarem micro-partidos.
Quanto a Paulo Portas, como já havia referido anteriormente, acho que a crise no CDS é muito mais profunda do que uma mera crise de liderança. Acho que os militantes centristas devem primeiro tentarem encontrar-se ideológicamente, para só posteriormente discutirem a liderança.
Filipe,
Compreendo quando falas dos "amigos" de Portas, realmente o facto do CDS não se ter renovado após o último congresso é uma das principais causas da hecatombe eleitoral nas intercalares de Lisboa. Paulo Portas não pode querer assegurar o CDS, mantendo para além do mesmo discurso, a mesma equipa que sempre o acompanhou. Já todos estamos fartos das caras do Nuno Melo, do Pires de Lima e do Telmo Correia.
Espero que pelo menos por agora, dêm abram a possibilidade do Mota Soares ficar com a liderança do grupo parlamentar.
Um abraço!
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