domingo, 9 de setembro de 2007

Quem está em vantagem? (Eleições PSD)

Uma campanha interna à liderança de um partido político é sempre muito difícil de ser medida em qualquer tipo de sondagem. Muitas vezes a melhor forma de sabermos quem está em vantagem, mesmo quando se trata de directas, é saber quem é que os principais rostos do partido apoiam. Falo pois de deputados, presidentes de câmara, presidentes de junta, dirigentes das jotas e de outras estruturas paralelas – isto sem esquecer os presidentes de comissão política e os presidentes das distritais.

Sejamos francos e realistas são estas pessoas que “têm os votos”, que são ouvidas pelos militantes de base na altura de assinalar a cruz no candidato X ou no candidato Y. São estes que melhor conhecem a estrutura e a quem os candidatos a líder vão ouvir e pedir apoio. O militante de base, na esmagadora maioria dos casos, vai atrás destas pessoas.

Tratando-se de umas directas, ainda por cima extremamente mediatizadas e que vão contar com pelo menos um despique televisivo, as coisas podem não ser bem assim. No entanto, regra geral penso que podemos tentar avaliar as possibilidades de vitória de cada candidato, pelo número de apoios que têm.

Para esta tarefa utilizei a internet e os sites das candidaturas, sendo que Luís Filipe Menezes me dificultou bastante a minha tarefa por não ter os apoios bem esquematizados, como os que constam no site de Luís Marques Mendes. No entanto penso que podemos tentar ter uma ideia geral das coisas se tivermos em conta os números que de seguida vou analisar.

Neste momento o actual presidente do PSD tem o apoio de 32 deputados à A.R., sendo que o PSD tem um grupo parlamentar de 77 deputados, pondemos concluir que está longe der ser um líder consensual junto dos parlamentares sociais-democratas. Já no que diz respeito às câmaras municipais laranjas, o Dr. Marques Mendes tem actualmente o apoio formal de 106 dos 157 presidentes de câmara eleitos pelo partido laranja em 2005, quer sozinho quer em coligação. Desta forma forma cai aparentemente pela base o argumento de que os autarcas sociais-democratas estam mais virados para o seu congénere de Vila Nova de Gaia.

Ainda na análise à tendência de voto do poder local laranja, há um dado que vem ajudar a confundir as contas, que é o facto do PSD ser o partido em Portugal que tem mais presidencias de Junta de Freguesia, sendo de estranhar que das 2028 juntas conquistas em 2005 pelo PSD, quer sozinho ou em coligação, o actual líder do partido só conte actualmente no seu site com 228 apoiantes presidentes de junta. Também é verdade que muito provavelmente os responsáveis pela candidatura não tenham andado a contactar os dois mil e tal presidentes de junta para constarem na comissão de honra.

O que seria mais importante de analisar, seria o número de presidentes de secções que têm manifestado o seu apoio a cada uma das candidaturas, quanto a estes dados não os consegui contabilizar, mas pareceu-me que ambas têm um número bastante expressivo, com alguma vantagem novamente para Marques Mendes. Há ainda um outro dado a ter em conta, que é o facto de Alberto João Jardim e os seus 10 000 votos do PSD/Madeira estarem com o actual líder do partido, facto que levou Menezes a apontar baterias para os Açores mas, tendo em conta os 10 presidentes de câmara, 2 deputados e o presidente da distrital que apoiam Mendes, parece que a jogada não lhe correu muito bem.

Quanto à JSD , que devido ao facto de nos estatutos qualquer um dos seus militantes com mais de 18 anos ser obrigado a fazer parte também do partido, se torna uma força a ter em conta neste embate, parece-me que na maioria dos casos acompanhará a tendência de voto dos séniores do partido na sua secção. No entanto parece-me que ambas as candidaturas contam com destacados membros da jota nas suas fileiras, sendo que Mendes aparenta ter alguma vantagem neste campo, visto contar com o apoio de importantes membros da CPN e de nomes como Daniel Fangueiro (ex-presidente da jota) e Bruno Ventura (candidato derrotado no último congresso). Já os TSD parecem-me, a julgar pelo site da candidatura de Menezes, mais inclinados para o autarca do norte, sendo que esta fonte não é 100% fiável.

A julgar por estes dados e acrescentando o facto de vários presidentes de distritais já terem manifestado apoio ao actual líder, parece-me que Marques Mendes caminha a largos passos para uma vitória, que no entanto ainda não me parece completamente certa.

Resta agora a Menezes tentar capitalizar o máximo de votos dos militantes de base que não se revêm na actual estratégia de oposição ao governo PS, aproveitando-se do debate que irá ter na SIC-Notícias e dos inúmeros contactos que vai tendo com os militantes um pouco por todo o país. Para muitos poderá não ser o líder ideal, talvez por isso não manifestem publicamente o seu apoio, mas por outro lado poderá ser um mal menor ao descrédito a que foi parar o PSD de Marques Mendes.

As escolhas dos líderes do PSD sempre nos levaram a grandes surpresas, mas muitas coisas certamente ainda irão acontecer. No entanto, Marques Mendes parece estar em vantagem.

Vídeo da ExpressoTV - Análise de Filipe Santos Costa

4 comentários:

Bruno disse...

Caro João,

É verdade o que dizes em relação à probabilidade de os votos dos militantes de base irem atrás do apoio que os respectivos Presidentes de Secção e Distrital dão ao candidato A ou B. No entanto essa medida pode ser alterada pelo número de militantes que pagaram quotas nos últimos dias (confesso que não tenho informações concretas).

Em relação a apoios representativos, pode dizer-se que Mendes está a dar 10 a 0 a Menezes. E isso quererá dizer alguma coisa. Pode querer dizer o que Menezes defende: quem tem lugares está agarrado ao poder por medo de os perder. Ou pode querer dizer que as pessoas sentem apoio da São Caetano ao trabalho que estão a desenvolver, apesar de isso não se reflectir no eleitorado.

A verdade é que - como dizes - esta história das directas faz com que a dúvida subsista até ao fim, principalmente no PSD que - como também dizes - já tem apesentado algumas surpresas, ainda no tempo dos Congressos.

Como militante do PSD, espero que se mantenha a boa educação e o nível da discussão. Sei o que quero para o meu partido e espero que o próximo Presidente também o queira.

António de Almeida disse...

-Caro João, concordo em parte com a análise que apresenta, em grande parte mesmo, com alguns reparos, presidentes de câmara e deputados representam muito pouco em eleições directas, presidentes de junta representam um pouco mais, porque são elementos muito próximos daquilo que representa o pior de qualquer partido, o PSD não é excepção, os aparelhos. Claro que Mendes tem vantagem, por duas razões, a falta de credibilidade nas propostas de Meneses, e a lógica aparelhistica de defesa do lugar, convém não esquecer que a próxima direcção do PSD tem para distribuir uns quantos empregos de deputados, presidentes de câmara, vereadores, e o que por lá não faltam são boys para parasitar o estado. No PSD e não só, diga-se, pois só quando, e se um dia criarmos circulos uninominais essa lógica poderá ser atenuada. Mas voltemos ao presente PSD, porque razão as eleições se realizam a 28 de Setembro? Porque Mendes sabia desde a primeira hora que não seria fácil arranjar 4 mil assinaturas, pelo que ganharia por falta de comparência de todas as alternativas realmente credíveis, tendo assim hipótese de obter uma vitória perante Meneses, que face ás suas críticas durante os dois últimos anos não teria alternativa senão ir a jogo, pois nem sequer arranjaria a desculpa de apoiar outra candidatura, já que ela não existiria. Com essa jogada para consumo interno Mendes ganha o partido, mas perderá o país para Sócrates em 2009, a não ser que algo anormal aconteça com o PS e o governo caísse de para-quedas nas mãos de Mendes, mas isso não é nada previsivel nem seria mérito da sua liderança.

AMN disse...

A imprevisibilidade de umas eleições como estas é sempre limitada. Possível, evidentemente, mas limitada. Longe do poder, e sem margem que permita aos militantes sonhar com o poder em 2009, a tendência de mobilização em torno do melhor candidato ou de uma vaga de fundo esvai-se um pouco, realçando e favorecendo o voto militante dos caciques.

O PSD está em crise, como sempre está a oposição em Portugal. É uma pena que, neste país, a oposição se limite a configurar uma travessia no deserto, incapaz de estimular.

Um abraço,
a.

João Gomes disse...

Acho que todos concordamos que Mendes vai ganhar, Menezes seria um mal menor e um PSD enfrenta uma crise nunca antes sentida.