sábado, 5 de janeiro de 2008

A história do Tal Canal

Acredito, tal como o Daniel Oliveira e o Pedro Sales, que um novo canal em pouco vai enriquecer a qualidade televisiva do nosso país, posso até reconhecer que com o acesso à televisão pela internet e aos canais da TVcabo, quem tem bom gosto abandone gradualmente os canais em sinal aberto - mas também não me esqueço que a maioria da população tem mau gosto e que o "Casamente de sonho" teve a maior audiência da passagem de ano.
Pelo que o Pedro Sales nos diz, a publicidade tem apostado tudo na televisão e com a entrada do novo canal o cenário vai piorar, os preços vão entrar em saldo e quem mais vem sentir isso são as rádios e a imprensa escrita - no que às rádios diz respeito até posso concordar, embora ache que as mesmas não têm feito nenhum esforço para cativar novos públicos, agora quanto à imprensa escrita, acho que este discurso já não cola.
É necessário que se criem mais e melhores jornais e revistas, mais caros se necessário e sem publicidade, isto para que a população com bom gosto, que com a gradual entrada no ensino superior vai aumentar, possa voltar a ter jornais de referência e tenha uma alternativa à televisão generalista. Estranho ver pessoas do bloco a falarem da importancia da publicidade, mas bem, isso é um sinal de evolução, agora o que eu não compreendo é como é que alguém de esquerda pode preferir que o Balsemão e a Prisa tenham o monopólio da televisão privada em Portugal - venha daí o canal 5, mesmo que seja dos senhores do Correio da Manhã.

4 comentários:

João Marcelo disse...

Confesso que fiquei surpreendido com o anúncio (pelo Governo) da abertura de concurso para um novo canal de televisão generalista em sinal aberto.

Parece-me interessante a análise que pode ser feita quanto ao impacte que este novo canal pode ter noutros meios de comunicação social. Mas alarmou-me, sobretudo, a linha de argumentação de Pinto Balsemão: segundo o mesmo, a descida das receitas de publicidade vai levar a que as televisões (incluindo as que actualmente já emitem) tenham menos dinheiro para investir e, por isso, serão obrigadas a fornecer programas de (ainda!) pior qualidade. Face ao estado actual das televisões portuguesas, isto é preocupante... se acrescentarmos que o principal candidato é a Cofina (detentora do Correio da Manhã), a notícia é aterradora!

João Marcelo disse...

Aproveito para te desafiar ao aprofundamento da reflexão (e conhecer a tua opinião sobre o assunto):
- Numa economia de mercado de livre concorrência, faz sentido que o Estado detenha (e financie) uma empresa (pública) de televisão?
- Num estado de direito democrático, faz sentido que exista uma empresa pública de televisão onde o Governo (e, por conseguinte, o poder político dominante) pode exercer uma influência determinante? (lembro que no Governo de Santana Lopes, essa pressão foi evidente)
- Uma vez que as televisões generalistas em canal aberto (públicas ou privadas) desenvolvem (todas) uma actividade de interesse público, sujeitas a licença no âmbito do direito administrativo público, não faria sentido que todas estivessem sujeitas às mesmas restrições de "serviço público de televisão" (e não apenas a RTP)?

Em suma, tal como já vi defendido, pergunto se não era mais honesto e isento, e se não beneficiava mais os consumidores e o mercado, a privatização total da RTP (há muito defendida pela SIC e pela TVI que se queixam de concorrência desleal) e a sujeição de todas as televisões às mesmas restrições de programação, uma vez que a má oferta de programas prejudica o nosso país de igual forma, quer se trate de uma empresa pública ou privada!

Gostava de conhecer a tua opinião.

João Gomes disse...

Respondendo por pontos:

- Faz todo o sentido que o estado detenha o controlo sobre uma empresa pública de televisão, mas não nos moldes em que existe em Portugal. A RTP não pode ter um objectivo de viver do e para o lucro, como tal não vejo qualquer problema se der prejuízo - sou até radical ao ponto de defender o fim da publicidade nos canais públicos. Como tal gosto do que posso ver na 2: e fico contente que os meus impostos sejam assim utilizados, espero que a 1: funcione num molde muito idêntico.

- Existe uma entidade reguladora que garante, num estado de direito que estamos, que não há intromissões do poder político nem na RTP, nem em nenhum outro órgão de comunicação.

- Sou favorável a que os contratos de concessão sejam elaborados de uma forma ainda mais radical, impondo uma taxa de 30% de programas de cariz comprovadamente cultural, obrigando à transmissão de dois eventos desportivos das modalidades ditas amadoras por cada jogo de futebol emitido e outro tipo de coisas de que mais tarde posso falar.

Um abraço

David disse...

Vejo que concordamos em alguns pontos, mas vou só sugerir uma coisa:
a maioria da população não tem acesso à televisão por cabo. Parecendo que não, ajuda à "falta de gosto".

Bom 2008