Como que por acaso dei por mim a procurar fotografias do Maio de 68 no google, aqueles retratos podem até já não significar nada para o estudante de hoje em dia, mas têm a magia de eternizar uma época e uma luta, que pelo menos foi sincera e apaixonada.
Estavamos então perante uma juventude que reclamava direitos e mais que isso uma voz, tudo o resto não fazia sentido – que interessava acabar o curso com uma boa média? As conquistas só faziam sentido se fossem globais, se o Eu se integrasse plenamente no Nós.
Foi assim com Cohn-Bendit e os seus camaradas em França, foi assim em Tiananmen e nas crises académicas da década de 60 em Portugal. O dirigente associativo era o rosto de uma luta, representava um sentimento de entrega total a uma causa pluralista, era o testa de ferro de um movimento de massas que reivindicava muito para lá do que seriam os interesses objectivos dos estudantes.
Ser dirigente associativo era abdicar de um Eu em busca de Nós fraterno e combativo. Hoje o combate parece ter sido relegado para segundo, terceiro ou até último lugar. A passos acelarados nasce uma nova corrente yuippie no associativismo português, cada vez mais preocupada com o Eu associativo do que com a luta, represente ela o que representar no século XXI.
Nesta nova classe dirigente, que raramente conseguiu vingar na política, o associtivismo estudantil aparece associado a um empenho brusco nos estudos em busca de um bom futuro profissional. Aparece como uma forma de emblezar o currículo e ganhar protagonismo, para que quando o curso esteja terminado estes dirigentes possam ter acesso a bons empregos em grandes empresas e escritórios.
Esta mentalidade para além de perigosa, leva a que muitas vezes os interesses dos estudantes sejam relegados para segundo lugar, por estarem a ser defendidos por dirigentes associativos em part-time, onde a prioridade da sua vida não é lutarem por um movimento associativo de massas, mas fazerem mandatos serenos e que sejam compatíveis com a sua vida estudantil e em alguns casos, pasmem-se, até profissional.
Sempre combati esta forma de estar no associativismo estudantil, para mim o verdadeiro dirigente académico é aquele que o é antes de ser qualquer outra coisa. Nunca conseguirei compactuar com pessoas que se aproveitam do movimento associativo para arranjar um emprego, ou que pensem que estas duas coisas são prefeitamente conjugáveis.
3 comentários:
Compatíveis, até acho que sejam. De resto, concordo plenamente. Os actuais estudantes-dirigentes, à imagem da (falta de valores da) sociedade em que vivem, procuram apenas "serem vistos". Um presidentes de uma associação académica, além de mostrar um currículo mais completo, mostrando ser mais que um marrão, abre portas de entidades de outra forma desconhecidas ou inacessíveis.
Da minha parte, lamento não me ter empenhado em participar mais dessa forma. E também por motivos egoístas, reconheço-o.
Concordo. Mas é um problema de âmbito geral e decorrem da perspectiva actual do indivíduo perante a sociedade
Sim João, talvez seja uma problema de âmbito geral, ou melhor da sociedade política em que vivemos.
Um abraço
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