segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Os exames nacionais, os rankings e as escolas católicas

A maneira como o ensino privado católico se aproveita dos rankings para apregoar bem alto que tem o melhor ensino do país é uma vergonha. De facto podemos concluír que as escolas com melhores resultados no acesso ao ensino superior foram os colégios católicos, três dos primeiros cinco ligados à Opus Dei - Mas é preciso urgentemente restabelecer a verdade dos factos.
Se uma escola é pública significa que a ela tem acesso qualquer jovem cidadão que viva naquela área de residência, independentemente do rendimento dos seus pais e da possiblidade de ter problemas sociais vários, ora esta doutrina de olhar o próximo como um igual e o tentar ajudar deveria ser muito cara à Igreja Católica, mas não o é. Na verdade só têm acesso a estes colégios os filhos das famílias mais abastadas, que por mero snobismo os decidem colocar num colégio católico, pré-formatando as mentes menos esclarecidas com o ideário perigoso da Obra começada por José Maria Escrivá.
Não tenho nada contra o ensino privado, desde que o mesmo não se arrogue de valores que simplesmente não tem e de que não sirva para difundir o fanatismo religioso, através da separação das escolas por sexos por exemplo, como faz a Opus Dei e que na minha opinião deveria ser proíbido por lei. Práticas como esta são ainda resquícios do fascismo.
Tirando estes exemplos acredito que existam colégios que façam todo o sentido existir, ensinando valores democráticos e dando a possibilidade aos pais de optarem entre o público e o privado, sem que para isso tenham que colocar uma máscara de serviço religioso - o ensino privado é uma actividade empresarial como outra qualquer, só não queiram é utilizar este tipo de ensino para difundir o ideário salazarista e para alimentar uma igreja católica choruda e de contas bem recheadas. Tenham vergonha!

6 comentários:

Tiago Cabanas Alves disse...

caro João,
Sendo o ensino privado como dizes uma dimensão empresarial como outra qualquer, não poderá um pai na sua livre autonomia privada entender que a obra de Escrivá é a melhor educação para o seu filho?
Ao mesmo tempo nao entendo porque razão terá o ensino privado de ensinar valores democráticos a quem pode não ser um democrata.
A verdadeira democracia nao se impõe discute-se.

João Gomes disse...

Poderá o pai decidir a orientação educativa do filho, quando esta não for contrária às orientações gerais do estado democrático.
Quanto à tua segunda pergunta, basta veres a CRP, está tudo lá espelhado relativamente à proibição de condutas não democráticas.

Um abraço

João Marcelo disse...

Caro João,
Escolhes um tema muito a propósito mas cometes o "pecado" do exagero (como a gula!) e substituis o "fanatismo" religioso pelo fanatismo republicano (com sintomas de preconceito anticlerical próprios da I República).

Primeiro, os rankings servem para isso mesmo: para os melhores apregoarem o seu resultado, para os piores se sentirem, pela vergonha, incentivados a melhorarem, para a comunidade (pais e alunos) conhecer as escolas e tomar as suas opções em função disso.

Porque a questão das escolas é isso mesmo: uma opção. Uma opção que cabe aos pais, às famílias (direito consagrado constitucionalmente). Cabe aos pais a liberdade (e não te esqueças que és democrata e que defendes a liberdade como direito principal num Estado democrático) de escolherem que educação querem que os filhos tenham, religiosa ou não religiosa. E pode não se tratar de mero snobismo... Tendo em conta o dispêndio económico e a diferença de qualidade associada, podemos chamar-lhe "investimento no ensino"...

Depois, deves abandonar a crítica de falta de acção caridosa por parte das escolas católicas: o ensino privado religioso insere-se, sobretudo, no direito de iniciatica privada (outra conquista do liberalismo!), que tem de ter um mínimo de viabilidade económica para se manter. Para acções de caridade a Igreja tem outras iniciativas, muitas delas na área da educação (creches, infantários, orfanatos...)

Aquilo que te devias insurgir é: por que é que a maioria dos pais, se pudesse escolher em condições de igualdade (o que, neste caso, significa eliminar a questão económica) preferiria colocar os filhos numa escola privada, e não numa escola pública? O desafio que se coloca é como é que podemos colocar o ensino público com a mesma qualidade (ou superior) do ensino privado. Quando olhamos para um ranking e no topo estão essencialmente escolas privadas, em vez da inveja, deve provocar uma vontade reforçada do ensino público em melhorar os seus índices de qualidade. O que é grave, pelo que mostra o estudo, é que os pais têm motivos para optarem pelo ensino privado... e católico!

A segunda grande preocupação é: vivemos num Estado não confessional, mas não anti-religioso: não há nada de mal em existirem religiões dentro do Estado, desde que este não as trate de forma desigual. O que neste momento (ainda) se passa, mesmo após a revisão da Concordata (negociada pelo Prof. Sousa Franco) é que existe um favorecimento da religião católica sobre as demais religiões NO AMBITO DO ENSINO PUBLICO e isso é que não deveria ser admissível. Não deveria o Estado educar para a pluralidade religiosa (com benefícios para a tolerância)? Quem quisesse optar por um ensino marcadamente religioso (católico ou outro), fá-lo-ia, livremente, no âmbito do ensino privado...

Tudo o resto considero preconceito: fiz parte da minha formação num colégio católico e não observei casos de "pré-formatação, fanatismo religioso, discriminação sexual, resquícios de fascismo, ideários salazaristas", entre outros...

João Gomes disse...

Caro João,

No que concerne a todos esses vícios que relatei, referia-me em concreto aos colégios da Obra.

Já no que diz respeito à tua opinião de que devemos olhar para os rankings com preocupação concordo, mas sempre numa óptica de equiparar o ensino público ao melhor do privado. Nunca caíndo no erro de optarmos por um sistema tipo "cheque ensino".

Quando falas da separacao do estado em relacao à igreja também só posso concordar contigo, principalmente quando abordas a actual concordata.

Um abraço

João Marcelo disse...

Caro João,

Fico feliz por observar que concordamos no essencial. Nunca duvidei que tal sucedesse, apenas alguns excessos de linguagem no post podiam indiciar o contrário...

A verdade é que o assunto sobre o qual escreveste (o resultado do ranking das escolas) esconde dois problemas muito anteriores: o modelo do sistema de ensino em Portugal e a relação entre o Estado e a Igreja Católica.

Quanto ao segundo, existem problemas bem mais graves do que a existência de escolas privadas católicas.
Quanto ao primeiro, o que realmente nos deve ocupar é melhorar os índices de qualidade do ensino público. E aí, concordo, o "cheque ensino", longe de ser uma solução, é uma proposta demagógica e desastrosa...

(Parabéns pelo tema escolhido)

David disse...

Bem, a discussão tem sido boa.

Deixe-me dar uma achega também:
O problema não está nas diferentes estruturas das escolas - neste caso, nas católicas - uma vez que se parte do princípio que um encarregado de educação coloca o filho numa privada, sabendo exactamente o que o espera. E que o Estado tem tudo regulamentado e controlado.

O problema é a forma como estes rankings estão a ser utilizados (e não é pela publicidade)! O problema é [um conjunto de factores]:
1.º - o governo divulgar dados de forma dúbia - o Expresso e o Público divulgaram resultados diferentes, imaginem cada jornal, rádio e tv a fazer o seu tratamento;
2.º - o governo aceita os vários resultados, e "oferece" assim aos encarregados de educação uma lista de produtos - as escolas - listadas por uma suposta qualidade;
3.º (e para mim mais importante) - o governo recusa-se a interpretar os resultados, não criando as condições para que haja melhores resultados no Ensino Público.