A maneira como o ensino privado católico se aproveita dos rankings para apregoar bem alto que tem o melhor ensino do país é uma vergonha. De facto podemos concluír que as escolas com melhores resultados no acesso ao ensino superior foram os colégios católicos, três dos primeiros cinco ligados à Opus Dei - Mas é preciso urgentemente restabelecer a verdade dos factos.
Se uma escola é pública significa que a ela tem acesso qualquer jovem cidadão que viva naquela área de residência, independentemente do rendimento dos seus pais e da possiblidade de ter problemas sociais vários, ora esta doutrina de olhar o próximo como um igual e o tentar ajudar deveria ser muito cara à Igreja Católica, mas não o é. Na verdade só têm acesso a estes colégios os filhos das famílias mais abastadas, que por mero snobismo os decidem colocar num colégio católico, pré-formatando as mentes menos esclarecidas com o ideário perigoso da Obra começada por José Maria Escrivá.
Não tenho nada contra o ensino privado, desde que o mesmo não se arrogue de valores que simplesmente não tem e de que não sirva para difundir o fanatismo religioso, através da separação das escolas por sexos por exemplo, como faz a Opus Dei e que na minha opinião deveria ser proíbido por lei. Práticas como esta são ainda resquícios do fascismo.
Tirando estes exemplos acredito que existam colégios que façam todo o sentido existir, ensinando valores democráticos e dando a possibilidade aos pais de optarem entre o público e o privado, sem que para isso tenham que colocar uma máscara de serviço religioso - o ensino privado é uma actividade empresarial como outra qualquer, só não queiram é utilizar este tipo de ensino para difundir o ideário salazarista e para alimentar uma igreja católica choruda e de contas bem recheadas. Tenham vergonha!
6 comentários:
caro João,
Sendo o ensino privado como dizes uma dimensão empresarial como outra qualquer, não poderá um pai na sua livre autonomia privada entender que a obra de Escrivá é a melhor educação para o seu filho?
Ao mesmo tempo nao entendo porque razão terá o ensino privado de ensinar valores democráticos a quem pode não ser um democrata.
A verdadeira democracia nao se impõe discute-se.
Poderá o pai decidir a orientação educativa do filho, quando esta não for contrária às orientações gerais do estado democrático.
Quanto à tua segunda pergunta, basta veres a CRP, está tudo lá espelhado relativamente à proibição de condutas não democráticas.
Um abraço
Caro João,
Escolhes um tema muito a propósito mas cometes o "pecado" do exagero (como a gula!) e substituis o "fanatismo" religioso pelo fanatismo republicano (com sintomas de preconceito anticlerical próprios da I República).
Primeiro, os rankings servem para isso mesmo: para os melhores apregoarem o seu resultado, para os piores se sentirem, pela vergonha, incentivados a melhorarem, para a comunidade (pais e alunos) conhecer as escolas e tomar as suas opções em função disso.
Porque a questão das escolas é isso mesmo: uma opção. Uma opção que cabe aos pais, às famílias (direito consagrado constitucionalmente). Cabe aos pais a liberdade (e não te esqueças que és democrata e que defendes a liberdade como direito principal num Estado democrático) de escolherem que educação querem que os filhos tenham, religiosa ou não religiosa. E pode não se tratar de mero snobismo... Tendo em conta o dispêndio económico e a diferença de qualidade associada, podemos chamar-lhe "investimento no ensino"...
Depois, deves abandonar a crítica de falta de acção caridosa por parte das escolas católicas: o ensino privado religioso insere-se, sobretudo, no direito de iniciatica privada (outra conquista do liberalismo!), que tem de ter um mínimo de viabilidade económica para se manter. Para acções de caridade a Igreja tem outras iniciativas, muitas delas na área da educação (creches, infantários, orfanatos...)
Aquilo que te devias insurgir é: por que é que a maioria dos pais, se pudesse escolher em condições de igualdade (o que, neste caso, significa eliminar a questão económica) preferiria colocar os filhos numa escola privada, e não numa escola pública? O desafio que se coloca é como é que podemos colocar o ensino público com a mesma qualidade (ou superior) do ensino privado. Quando olhamos para um ranking e no topo estão essencialmente escolas privadas, em vez da inveja, deve provocar uma vontade reforçada do ensino público em melhorar os seus índices de qualidade. O que é grave, pelo que mostra o estudo, é que os pais têm motivos para optarem pelo ensino privado... e católico!
A segunda grande preocupação é: vivemos num Estado não confessional, mas não anti-religioso: não há nada de mal em existirem religiões dentro do Estado, desde que este não as trate de forma desigual. O que neste momento (ainda) se passa, mesmo após a revisão da Concordata (negociada pelo Prof. Sousa Franco) é que existe um favorecimento da religião católica sobre as demais religiões NO AMBITO DO ENSINO PUBLICO e isso é que não deveria ser admissível. Não deveria o Estado educar para a pluralidade religiosa (com benefícios para a tolerância)? Quem quisesse optar por um ensino marcadamente religioso (católico ou outro), fá-lo-ia, livremente, no âmbito do ensino privado...
Tudo o resto considero preconceito: fiz parte da minha formação num colégio católico e não observei casos de "pré-formatação, fanatismo religioso, discriminação sexual, resquícios de fascismo, ideários salazaristas", entre outros...
Caro João,
No que concerne a todos esses vícios que relatei, referia-me em concreto aos colégios da Obra.
Já no que diz respeito à tua opinião de que devemos olhar para os rankings com preocupação concordo, mas sempre numa óptica de equiparar o ensino público ao melhor do privado. Nunca caíndo no erro de optarmos por um sistema tipo "cheque ensino".
Quando falas da separacao do estado em relacao à igreja também só posso concordar contigo, principalmente quando abordas a actual concordata.
Um abraço
Caro João,
Fico feliz por observar que concordamos no essencial. Nunca duvidei que tal sucedesse, apenas alguns excessos de linguagem no post podiam indiciar o contrário...
A verdade é que o assunto sobre o qual escreveste (o resultado do ranking das escolas) esconde dois problemas muito anteriores: o modelo do sistema de ensino em Portugal e a relação entre o Estado e a Igreja Católica.
Quanto ao segundo, existem problemas bem mais graves do que a existência de escolas privadas católicas.
Quanto ao primeiro, o que realmente nos deve ocupar é melhorar os índices de qualidade do ensino público. E aí, concordo, o "cheque ensino", longe de ser uma solução, é uma proposta demagógica e desastrosa...
(Parabéns pelo tema escolhido)
Bem, a discussão tem sido boa.
Deixe-me dar uma achega também:
O problema não está nas diferentes estruturas das escolas - neste caso, nas católicas - uma vez que se parte do princípio que um encarregado de educação coloca o filho numa privada, sabendo exactamente o que o espera. E que o Estado tem tudo regulamentado e controlado.
O problema é a forma como estes rankings estão a ser utilizados (e não é pela publicidade)! O problema é [um conjunto de factores]:
1.º - o governo divulgar dados de forma dúbia - o Expresso e o Público divulgaram resultados diferentes, imaginem cada jornal, rádio e tv a fazer o seu tratamento;
2.º - o governo aceita os vários resultados, e "oferece" assim aos encarregados de educação uma lista de produtos - as escolas - listadas por uma suposta qualidade;
3.º (e para mim mais importante) - o governo recusa-se a interpretar os resultados, não criando as condições para que haja melhores resultados no Ensino Público.
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