"O Portugal legítimo do «Se não, não» foi substituído por um Portugal artificial, espécie de títere, de que o governo puxa os cordelinhos.
Vela a Polícia e o lápis da Censura.
Incapacitados, uns, por esse regímen de coibições - entretidos, outros, com a digestão, que não lhes deixa atender ao que se passa, jaz a Pátria Portuguesa em estado de catalepsia colectiva."
Está em perigo a integridade nacional. É isto que venho lembrar-lhe, Senhor Presidente do Conselho."
Vela a Polícia e o lápis da Censura.
Incapacitados, uns, por esse regímen de coibições - entretidos, outros, com a digestão, que não lhes deixa atender ao que se passa, jaz a Pátria Portuguesa em estado de catalepsia colectiva."
Está em perigo a integridade nacional. É isto que venho lembrar-lhe, Senhor Presidente do Conselho."
Carta de Henrique de Paiva Couceiro a António de Oliveira Salazar, em 31 de Outubro de 1937 - In Os Monárquicos e o Ultramar, Lisboa, Biblioteca do Pensamento Político, 1971, pp. 12-18
Num outro blog que já alimentei cheguei a falar do livro "Henrique de Paiva Couceiro um Herói Português" de Vasco Pulido Valente - uma excelente obra bibiográfica sobre um condestável do reino, um lutador como houve poucos na nossa história e um Nuno Álvares Pereira do início do século XX.
Numa altura em que se fala de Monarquia, do Regícidio e da posterior implatação da República, é preciso não esquecer o outro lado, de quem lutou até ao fim por uma causa, levando até ao último dos limites a convicção de uma ideologia - que para aqui não interessa que seja boa ou má. A verdade é que não se dá nas escolas a história de HPC, o ensino laico e republicano, que tantas vezes elogio, deixou cair um herói.
Vou então tentar falar, o mais resumidamente possível, sobre o legado que HPC nos deixou. Ainda muito novo ingressou no exército, no mesmo dia em que se torna oficial envolve-se numa discussão no Chiado, onde acaba por matar o seu adversário, que havia insultado sua mãe - é pois enviado para África, onde fica conhecido por vários feitos heróicos. Um dos episódios mais caricatos durante a sua estadia em África, primeiro como militar e depois como governador, é quando se dá o Últimato Inglês e o comandante decide ir à conservatória retirar o nome inglês que havia herdado da mãe.
Retornado a Portugal e várias vezes aclamado pelos seus feitos heroícos nas colónias, HPC é um dos únicos monárquicos que ousa pegar nas armas no 5 de Outubro - foi também o último a render-se. Nessa altura Afonso Costa chama-o e convida-o a aceitar a república e ajudar na reforma do país, HPC recusa-se e dá-lhe um prazo para convocar um plesbícito em que o povo poderia escolher sobre que sistema de governo queriam ver orientado o seu país - nunca obteve uma resposta.
Não se conformando com a revolução repúblicana, HPC decide rumar para a Galiza onde começa a preparar uma incursão monárquica pelo norte do país, convencido de que conquistando esta região, largamente monárquica, conseguiria que ocorresse uma revolução também em Lisboa e que o povo instaura-se novamente a monarquia. Começando a formar o seu pequeno exército apelou à nobreza que o ajuda-se, sendo que muitos foram os jovens que a ele se juntaram em Espanha - apelou então ao Rei D. Manuel II, então exilado em Inglaterra com sua mãe D. Amélia esposa de D. Carlos, que o ajudasse nesta causa. Ao que me parece o monarca deposto não parecia muito interessado no assunto e apoio tardou sempre em chegar.
Mesmo com um exército com apenas mil e poucas pessoas, a sua grande maioria inexperiente no que ao exercício militar diz respeito e muito mal armada, HPC decidiu rumar, sem sucesso, por duas vezes, até ao Norte do país - das duas vezes a adesão popular não correu como havia planeado e os militares do regime rápidamente acabaram com os incidentes. No entanto, à terceira tentativa HPC conseguiu finalmente chegar ao Porto e instaurar a Monarquia do Norte, que mesmo não recebendo o avalo de Lisboa, acabou por resistir um mês. Esta incursão contou com o apoio de Aires de Ornelas Lugar-Tenente do rei deposto.
Depois deste feito heroíco acabou por deportado para as ilhas espanholas, de onde sempre manifestou a sua oposição ao regime e posteriormente também ao Estado Novo e a Oliveira Salazar - ao contrário da Rainha D. Amélia que como se prova em documentos guardados na Torre do Tombo, trocou várias cartas com Oliveira Salazar, com quem mantinha uma relação muito próxima. HPC acabou por falecer em Lisboa, num simples apartamento, onde os únicos objectos que o habitavam eram as três espadas com que havia combatido em África e tentado restaurar a monarquia, uma cama, uma bandeira monárquica e uma cruz.
1 comentário:
Caro João,
a fotografia que acompanha este texto não é do Paiva Couceiro.
Miguel
Enviar um comentário